sábado, 2 de novembro de 2013

Primeiro nossa identidade para depois cobrarmos reconhecimento por ela



Um contribuição diante as discussões sobre a "profissionalização" da Capoeira. Esta mensagem foi compartilhada pela Priscila Paiva de BH - capoeira, acompanhando e participando das discussões sobre as políticas públicas para a capoeira... O texto é de autoria do Mestre Cobra Mansa e foi lido durante a Audiência Pública da Frente Parlamentar em "Defesa da Capoeira"... Em tramitação um projeto de lei que não foi amplamente debatido pelas comunidades de capoeira... Segue para reflexão:

Bom dia,
Segue abaixo o texto de autoria do Mestre Cobra Mansa, que foi apresentado na audiência pública ocorrida semana passada em Salvador para discutir o projeto lei da regulamentação da profissão da capoeira.
Bom para refletirmos.
Att.
Priscila


"Nos capoeiristas, no Brasil e em todo mundo, somos na maioria,trabalhadores da construção, professores, estudantes, esposas, maridos,doutores, advogados, banqueiros, administradores, desempregados, músicos,artistas, etc. Em resumo, fazemos parte? desta coisa? que chamamos SOCIEDADE. Logo, vivemos e seguimos muitas ou a maioria das práticas que esta sociedade possui. Somos, inevitavelmente, o elemento básico que constitui a sociedade; ela existe porque estamos nela. Mas ao mesmo tempo, não somos absorvidos ou assimilados a força por esta sociedade e, pessoalmente, acredito que é ai que nos capoeiristas, como qualquer outro grupo na sociedade, podemos fazemos diferença, pois, cumprimos com o que nos cabe como parte desta sociedade, contudo, tem uma outra parte das nossas vidas que simplesmente não se "enquadra" dentro desta mesma sociedade que seguimos.

Somos, por natureza e/ou por escolha, um tipo diferente de indivíduos: desejamos a liberdade no nível mais profundo de nosso ser. Um Homem disse uma vez: "Se você deseja ser livre, você tem apenas que começar a ser livre." A liberdade é um estado mental e não um estado do corpo. Nós somos e continuaremos a ser parte desta sociedade, contudo, não de forma passiva, pois, devemos também continuar a aumentar o que temos de melhor dentro dela. Nenhum sistema ou sociedade pode engolir o que um indivíduo tem de melhor, uma vez que este tenha tomado consciência destas suas virtudes. Por isso o conceito de institucionalização da capoeira não cresceu tão profundamente dentro da maioria das comunidades de adeptos desta arte, especificadamente nas comunidades de capoeira Angola. O estilo de vida da capoeira é música para os nosso ouvidos, porque criamos o nosso próprio espaço com esta sociedade da qual fazemos parte, mas que muitas vezes desprezamos.

A capoeira, como mestre Pastinha disse, é tudo que a boca come. E como o ar, sabemos que está lá, respiramos e precisamos dele; contudo, não podemos capturá-lo. A capoeira não pode ser limitada a um grupo de praticantes, por uma organização formal e muito menos por um grupo de Mestres que clamam o monopólio sobre ela. A capoeira vai além de todos nós. Nenhuma sociedade, comunidade, ou indivíduo jamais irá controla-la.

Então, se praticamos a capoeira para nos afastarmos daquilo que ha de tradicional e repressivo dentro da sociedade e que desaprovamos tão fortemente, porque quereríamos institucionaliza-la? Nos parece um tanto contraditório, já que institucionalização significa seguir profundamente todos os protocolos e leis detalhadas da sociedade para que nos enquadremos nos esquemas administrativos e corporativos com alguma prática e sentido reais: independência fiscal, oportunidades de doações, coesão administrativa e grupal, etc. Grupos diferentes de capoeira, dentro da história e mais ainda nesta últimas décadas, tentaram criar uma instituição ou organização paralela somente para a capoeira, e se tornaram tão restritas e repressivas como a instituição original da qual eles haviam tentado se afastar.
Em todas as partes do mundo nós vemos a corrupção e escândalos que instituições e indivíduos fazem. O sistema controla vários setores da sociedade com um número pequeno de pessoas tendo o monopólio absoluto sobre estes. Se olharmos para o Brasil como exemplo, vemos o carnaval e outras manifestações criadas pelo povo que foram institucionalizadas. O povo que originalmente os criou foram os que mais perderam com isso.
Antes de pensarmos em institucionalização da capoeira, nós temos que perguntar porque querem nos ?organizar?? Porque quereríamos uma instituição para controlar o nosso estilo de vida? Quem vai ganhar com isso? A capoeira? O capoeirista? Os burocratas? Será que estas instituições são realmente necessárias? Quem as controlara? Porque elas tem que ser tão repressivas, elitistas e ditatoriais? Podemos confiar nestas instituições e nos seus líderes moralmente, financeiramente, fisicamente e espiritualmente? O que é que nós queremos? Nós queremos a institucionalização da capoeira, ou uma comunidade de capoeira que trabalhe com "o sistema"para obter honestamente o que precisamos sem nos inclinarmos para o que este sistema tem a nos oferecer?
Embora estejamos abertos para crescermos no espírito e conhecimento da capoeira, queremos evitar a imposição de valores de um grupo de pessoas e burocratas que já tenham criado as suas próprias escalas de valores. Queremos uma comunidade que celebre e encoraje a individualidade e a cooperação entre seus membros; uma comunidade mundial de capoeira que respeite diferentes valores, crenças, pontos de vista, práticas, etc; em resumo, o que queremos e uma comunidade que respeite as nossas diferentes estórias e histórias, as nossas vidas diferentes e o nosso crescimento em direções variadas para o seu próprio fortalecimento. Pois, e isto o que nós todos teremos para oferecer através do entendimento e do amor sob a prática e o espírito da capoeira."
Mestre Cobra Mansa mestrecobramansa@yahoo.com.br
Ps: Por favor não altere o sentido desse texto e mande para todos os capoeiristas e individuo que acreditar na liberdade e em uma sociedade alternativa e mais justa.


Mestre Cobra Mansa

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